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Entrevista com o artista de rua Paulo Ito

Publicado em terça-feira, 30 de setembro de 2014, 17:49.

Graffiti de Paulo Ito na Radial Leste, São Paulo, 2014

Qual sua idade, cidade/estado, e desde que ano começou a pintar?

Tenho 36 anos, sou de São Paulo capital. Comecei a pintar painéis em 1997 e na rua em 2000.

Como foi se envolver com arte? Conte-nos um pouco sobre como foi o início, o que o fez buscar o graffiti, os murais, e como foram seus primeiros contatos com esse universo?

O início é um pouco o que o Angeli fala: eu desenhava como toda criança, só que nunca parei. Fiz um curso de pintura e de HQ quando era criança. Os murais eu fazia com um grupo de amigos dentro do campus da Unicamp, onde cursei artes. Fazíamos coisas ligadas a musica e performance. Era bem experimental. Quando me formei, tinha uma certa bagagem, e emprego nenhum. Então um tio meu disse que no bairro dele tinha uns caras que tinham um compressor e pintavam portão de comercio. Comecei a fazer o mesmo. O trabalho era distribuir cartões pela cidade e oferecer os serviços. Eram trabalhos pequenos e eu e um amigo que hoje é farmacêutico e era meu ajudante ganhávamos uma merreca, mas estávamos felizes por estarmos ocupados. Não muito tempo depois, comecei a usar spray e pintar com o pessoal que fazia parte do núcleo da ONG Aprendiz. Foi um momento de muito aprendizado. O Highraff que na época era o Caxias da crew Nóis falou e acertou: agora que você vai mexer com spray, não vai largar mais.

Graffiti de Paulo Ito no inicio dos anos 2000 (2)

Legal, então chegou a pintar com o Highgraff naquela época? Havia mais alguns, alguma crew? Quais nomes serviam de inspiração para o seu trabalho?

Sim vários. Nesse rolê estava além dele: Dev, Cirrose (Atos), Prozak, Nóis (Japa), Zezão, Akeni, Niggaz, Boleta, Dask entre outros que esqueci. Eu alinhava mais com o Dask, e formamos a crew Toscs, porque tínhamos menos experiência que esses caras e o trampo era mesmo muito tosco. Aí transformamos o tabu em totem. A gente enchia a cara e fazia uns trampos bem experimentais. E nesse momento muitos estavam mais focados num trabalho com a pegada mais gráfica e buscavam o acabamento perfeito, então era mais um antagonismo que uma influência desses colegas. Realmente era um grande desafio pintar com a colorgin automotiva, porque escorria mesmo. Mas eu e o Dask deixávamos escorrer e literalmente emporcalhávamos as paredes
Então na época eu admirava mais os gêmeos, herbert e vitché, que estavam numa busca mais artística.

Graffiti de Paulo Ito no inicio dos anos 2000 (1)

Como você vê o graffiti hoje, e naquela época? Desde as gerações, as tecnologias das latas, à rua, internet… Como foi essa “revolução” do graffiti nacional, se podemos chamar assim…?

Muita coisa mudou, acho que no começo tinha muita influencia gringa. Acho que muitos artistas buscaram criar um estilo mais próprio e original. Ao mesmo tempo essas latas novas facilitaram as coisas e mais gente entrou na street art por conta disso também. Isso é positivo, mas é claro que muitos vão dizer que a coisa perdeu a essencia, o q pode ser verdade. mas ocorre essa transição também do graffiti pra arte de rua que vem crescendo cada vez mais. Não que uma coisa anule a outra, mas logicamente o graffiti em si tem uma série de regras que a arte de rua não tem. E a internet facilita bastante. No meu caso, por exemplo, é muito importante, porque normalmente não pinto em picos de muita visibilidade.

Graffiti de Paulo Ito em Protesto, Pompéia 2013

Vimos que você aborda muitas questões contemporâneas em seu trabalho, em forma de protesto, às vezes certo deboche, etc. Como é o processo de criação de seu trabalho, como seus pensamentos e vivências influenciam na criação?

Sim, a ideia é com o humor criticar a sociedade e a eu mesmo. conheci uma vez um autista funcional e me identifiquei muito com ele. O Ciro Schu estava comigo nessa situação e eu já suspeitava que eu tinha síndrome de asperger, eu não tenho isso confirmado e o diagnóstico não é simples. Todo caso o Ciro ficou muito impressionado com a semelhança entre eu e esse cara e eu mesmo me identifiquei muito. E uma das características do asperger é a de se incomodar com coisas que fogem a uma regra pré-estabelecida. E o Brasil é um paraíso nesse sentido, um prato cheio pro meu processo criativo. Normalmente as ideias surgem dessas coisas que me incomodam e eu simplesmente as anoto e quando o momento parece mais oportuno às faço na rua.

Graffiti x Protesto de Paulo Ito

E quanto à pintar na rua… Como foram suas primeiras experiências, ou as mais marcantes, já correu alguns riscos ou foi surpreendido de alguma maneira negativa, ou positiva e queira comentar.. Como foi a reação das pessoas no início, e como é hoje?

Ah tem muitas histórias. Uma senhora tentou me agredir a guarda chuvadas, e seu filho procurava conte-la – calma mãe! – ela estava furiosa, jejejejeje. Tomei um soco de um policial uma vez, quando fazia um Bomb, mas não doeu muito, foi um dia muito legal no final das contas, dizem que a adrenalina ativa a memória. Deve ser por isso que apesar de estar bêbado, me lembro bem do acontecido. Mas a melhor história eu acho foi quando conheci o candidato ao senado pelo partido do Maluf, Cunha Bueno em 2002. Eu tinha, junto ao Dask, pixado um outdoor do Maluf e em uma festa me perguntaram se eu tinha visto esse vandalismo. Fiquei muito feliz que as pessoas tinham notado e resolvi repetir a dose. Então eu o Dask saímos pra pintar com o Ciro que acho que estava de ressaca e ficou dormindo no carro. Fomos sentido Interlagos e passou por nós uma caravana do Quércia que também concorria ao senado. Eu achei que era um ótimo momento pra fazer uma intervenção em um outdoor dele, já que a caravana não iria voltar tão cedo e ele em pessoa talvez estivesse por lá. Então paramos o carro a uns 100m do outdoor e eu subi com a escada e comecei a fazer uma textura de madeira na cara do candidato. De repente um vectra branco inteiro filmado parou do meu lado. E de lá desceu o sr. Cunha Bueno com um charuto na boca e suspensórios, ou seja fantasiado de mafioso siciliano. E não foi pra menos saíram mais três ou quatro capangas mal encarados e ele começou a me esculachar: – Você sabe o que está fazendo? – isso é crime eleitoral! – Foi o PT que mandou você fazer isso, fala a verdade!? – E eu emendei: Doutor!! Estou fazendo isso porque vou votar no senhor, odeio o Quercia, e mais outras mentiras. (mas odiar o Quércia era verdade) – Mas ele ficou realmente perturbado e muito agressivo. Me pegava pelo braço. Ai eu gritei: você não pode fazer isso! – Então ele emendou: – Está vendo esses senhores? São todos policiais! – E eu falei: É nada! – Ai um deles mostrou uma credencial. Botou bem na minha cara, falando: – Não encosta! Só olha. – Depois o candidato jogou minha escada num terreno baldio e me pegava pelo braço pra que a gente desse um “voltinha” – Óbvio que eu fiz de tudo pra me esquivar e no final ele mandou eu apagar aquilo, gritando: -Ele é MEU adversário! MEU ADVERSÁRIO! – então eu prometi que ia apagar e saímos correndo de lá e nos perdemos e o Ciro não entendia nada. Enfim. A pergunta é, o que o Cunha Bueno estava fazendo ali logo depois da caravana do Quércia ter passado? Coisa de gente perigosa, imaginei. Por sorte ele não ganhou a eleição, e pelo que soube se desentendeu com os colegas do Maluf. E pra mim foi importante essa experiência, porque entendi um pouco melhor a cabeça de um “político” direitóide e muito conservador, o que aumentou minha raiva por eles.
E bom, as pessoas reagem com maior indiferença hoje, do que a muitos anos, acham mais normal, antes era mais novidade.

Graffiti de Paulo Ito em trem de carga (2)

Paralelo ao graffiti na rua, você também foi tendo oportunidades de exposições, e viagens internacionais, correto? Conte um pouco como foram essas oportunidades. Você esperava, ou de alguma maneira buscava isso? Foi um choque, ou foi natural…

Sim, eu tinha essa meta no começo, de ser um pintor, de ser representado por uma galeria. Mas mesmo enquanto artista independente, tive experiências positivas. Fiz três exposições individuais que foram relativamente bem sucedidas. Ao mesmo tempo meu trabalho não subiu drasticamente de preço mesmo porque parei de pintar telas em 2009, salvo raras exceções que são trabalhos encomendados. Mas nunca ninguém bancou viajem minha e nem espero isso, agora que pinto somente mural. Muitas pessoas são além de ótimos artistas, excelentes vendedores do próprio trabalho, outros são somente vendedores e alguns são melhores na arte, que é o meu caso. Então não espero nada de ninguém, simplesmente junto dinheiro quando dá e viajo quando me convidam. Agora nesse estágio, já estou pronto pra viajar sem ninguém convidar jejejejeje. Isso traduz um pouco a frase que tenho tatuado nos braços: Nec Spe, Nec Metu – do latim, que quer dizer nem esperança nem medo. Então não espero, nem de pé, nem sentado. Entendo que as pessoas convidam os artistas não só pelo trabalho que fazem, mas pelo carisma, pelo quanto são amigos, por insistência, não sei. Mas acho que é normal né. Talvez eu fizesse o mesmo. Ainda bem que não cabe a mim esse papel.
Fiz painéis em vários lugares, especialmente Europa, mas sempre painéis pequenos e efêmeros. O ultimo que fiz em Halle na Alemanha acho que é a única obra mais interessante, fora um painel na Cracóvia na Polônia que não sei se ainda existe
Não sei se meu trabalho foi reconhecido. Como venho de artes plásticas tenho um timming muito diferente do de alguns colegas. Na década de noventa era normal ouvir que falar de jovem artista de 40 anos. Hoje não sei porque não tenho mais nada a ver com o mundo das artes plásticas, mas todo caso, concordo com o Nuno Ramos quando disse no roda viva que hoje os artistas com 3 anos de experiência já definem o q vão fazer pro resto da vida. Pode ser monetariamente uma vantagem, mas haja saco… Então espero que em 4 anos eu me transforme em um jovem artista jejejejejeje
E outra, apesar de difícil, acho que durante uma boa parte da minha trajetória tinha muito o Van Gogh como referencia e entendia que se morresse sem ninguém ou apenas alguns terem visto meu trampo, não tinha nada demais. Minha função antes de tudo é pintar
Sempre lembro de uma frase do livro O Retrato do escritor russo Nicolai Gogol, e olha que lí a pouco tempo, mas tem muito a ver comigo: o mestre fala pro discípulo (são pintores) – é algo assim, não sei se é exatamente isso: -“Deixe que outros arrebanhem dinheiro, o que é seu, ninguém pode tirar”.

Graffiti de Paulo Ito (1)

O que, em sua opinião vem a ser o graffiti, e, para quem está iniciando, o que é necessário para começar e continuar da melhor forma possível, tendo em vista todas as dificuldades de um jovem brasileiro?

Acho que não cabe a mim falar sobre o Graffiti. Eu faço alguma coisa nesse sentido, quando pinto sem autorização , mas vejo que isso no meu caso está dentro da arte de rua. E sobre ela, posso falar que se a meta desse jovem é ganhar dinheiro, subir na vida, pra ter um audi, que não procure a arte de rua. Existem muitas profissões que as pessoas fazem pra ganhar dinheiro. Digo isso porque essa meta prejudica a qualidade dos trabalhos. Se você pinta na rua pensando em vender, pode ser uma armadilha, porque a galeria enquanto objetivo, pode enfraquecer o potencial criativo que só a rua proporciona. Não digo que o galerista ou o curador vai obrigar o artista a pintar de uma certa forma. Mas se ele não o fizer correspondendo a uma expectativa comercial, nem vai entrar, e se entrar, não vai perdurar. Agora se esse jovem está consciente que isso é pra toda a sua vida, só posso recomendar que vá em frente e que saiba que não é fácil. Mais do que isso, que é bastante demorado em alguns casos. Mas pode valer a pena e se for verdadeiro, acho que vale sim.

Graffiti de Paulo Ito (5)

Você gostaria de deixar algum recado para quem está lendo sua entrevista e conhecendo um pouco mais seus trabalhos? Ou para quem quiser…

bom acho que pra fechar eu queria dizer que ver arte de rua, ou arte em geral nem sempre deve gerar ao espectador uma opinião que oscila somente entre o “gostei” ou “não gostei”. Tem muitas obras que se propõe a ir além disso, e as vezes pedem um pouquinho mais de quem vê. E tem obras que podem incomodar, mas serem mesmo assim boas, podem até mesmo ser feias, mas de grande valor artístico. Eu li um livro do Alain de Botton que se chama Religião para ateus. E em uma parte ele afirma que algumas imagens usadas pelas religiões, ou objetos, tem a função de lembrar o fiel de certos aspectos da vida, e de como lidar com eles. No caso da igreja católica, muitas dessas imagens, como as passagens feitas em vitrais nas igrejas ou afrescos eram de uma certa forma obras de arte ou arte efetivamente. Imagine cristo na cruz, não é uma imagem fácil, é na verdade algo incômodo. Mas cheia de significados pra quem acredita nele. Fiquei pensando que meu trabalho tem totalmente a ver com isso. Lógico que não estou tentando doutrinar ninguém, mas não quero fazer arte pra combinar com o sofá.

Graffiti de Paulo Ito com Alex Senna na vila anglo, 2013

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Graffiti de Onesto – Alex Hornest – Objetos Nulos

Publicado em terça-feira, 27 de maio de 2014, 18:03.

Graffiti de Onesto - Alex Hornest - Objetos Nulos (3)

Graffiti de Onesto - Alex Hornest - Objetos Nulos (1)

Graffiti de Onesto - Alex Hornest - Objetos Nulos (4)

Ótimo video onde o grafiteiro e artista Alex Hornest (Onesto) fala um pouco sobre a influencia da rua em seus trabalhos, e claro sobre sua visão a respeito do graffiti. Vale apena dar uma olhada.

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CO-RAP a rima das ruas

Publicado em quarta-feira, 5 de março de 2014, 18:10.

CO-RAP a rima das ruas

“Há quatro anos, ainda em 2009, um grupo de jovens se reunia para fortalecer e organizar o movimento Hip Hop em Santa Maria. Com a participação na Rádio Comunitária Perifa e com a realização de eventos em escolas e praças de bairros marginais, o Coletivo de Resistência Artística Periférica (CO-RAP) foi se tornando cada vez mais forte e conhecido pelas ruas da cidade.

A partir da grande repercussão que a Batalha dos Bombeiros ganhou por unir o centro e a periferia de Santa Maria através da disputa de rimas improvisadas, um grupo de quatro estudantes de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria enxergou no evento a possibilidade de contar uma história.

“CO-RAP a rima das ruas” é um mini-documentário produzido para uma das disciplinas do 7° semestre do curso de Jornalismo da UFSM. Nascendo da ideia de mostrar a história do Coletivo e suas principais atividades, o trabalho apresentou um horizonte maior, imbricado da própria cultura Hip Hop: a constante atuação do CO-RAP em diferentes debates político-sociais ocorridos na cidade, como a ocupação dos espaços públicos, a criminalização da juventude das periferias e o limitado acesso à cultura e ao lazer.

As conversas e gravações ocorreram de junho a agosto de 2013, e o produto final tem quase a obrigação de se expandir para além dos muros da universidade. Afinal, divulgar construção do CO-RAP é despertar uma inspiração para resistir e trabalhar na tentativa de transformação através da rima, da dança, da cultura e da política.

RIMA DE RESISTÊNCIA, pelo viés de Marina Martinuzzi e colaboração de Dairan Paul, Gabriela Gelain e Natascha Carvalho – www.revistaovies.com”

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Flow – Entrevista como grafiteiro carioca Marcelo Eco

Publicado em segunda-feira, 4 de novembro de 2013, 16:03.

Rodoviária - Rio de Janeiro - Brasil

Graffiti Throw-up de Marcleo Eco, Lapa, Rio de Janeiro, RJ

Graffiti em trem na Central do Brasil, Rio de Janeiro - Eco e Akuma (1)

O grafiteiro é um dos pioneiros do grafite no Rio de Janeiro, ao lado de EMA e Akuma deu início aos seus trabalhos em São Gonçalo. Sua arte começou a ganhar destaque na clássica festa “Zoeira Hip-Hop”. De lá pra cá Eco dominou os muros da Tijuca e levou seus personagens para o mundo. Eco Tem no currículo trabalhos para grandes empresas como Sony, Volkswagen, Gatorade e Nike. Na área de cenografia, realizou trabalhos importantes em Clips Musicais e programas para diversas redes de TV. Já expos na Art Paris, situado no Grand Palais (França), Galeria LCG (RJ-Madri/Espanha), WSA(Argentina), Museu de Arte Contemporânea (Mac Niterói, RJ), Espaço Constituição (RJ), Centro Cultural da Justiça Federal (RJ), Palácio do Catete (RJ), Cirque du Soleil – Quidam Tour e MuBE (SP).

Veja abaixo uma entrevista para o canal Flow, com a direção de Natasha Prado.

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